Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006
Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006
Foi dar com o Pato Preto, sem gravata, descontraído, parecendo plenamente feliz pela primeira vez, desde que o conhecia. Nas patas uma belíssima tatuagem Mehndi fazia sobressair, ainda mais, o laranja vivo das mesmas. Que bonito está!, exclamou Lunata mentalmente com tal convicção que lhe saiu em som, oralmente, também.
− Obrigado − agradeceu ele orgulhoso, dando uma volta sobre si próprio, para que ela o pudesse mirar melhor − São costumes antigos. Fazem-se, em ocasiões especiais, com hena, no Norte de África, no Médio Oriente e no Sul da Ásia − explicou, esticando muito as patas delicadamente enfeitadas de cima abaixo − Fez-mas um primo acabado de migrar do sul. Um primo berbere! − exclamou, enchendo muito o papo, vaidoso, como que orgulhoso dos seus dizeres.
− E o que faz um primo teu berbere aqui nesta altura do ano? Não é precisamente agora que rumam, vocês, para sul? − Perguntou, ela, intrigada, desconfiada de mais alguma informação que ele lhe estivesse a ocultar.
O Pato Preto tossiu. Um quack seco, engasgado, seguido de mais três que parecerem a Lunata uma gargalhada nervosa.
− Veio para a festa − informou, dando mais uma volta, mas desta vez em torno dela.
− Festa? Mas que festa???
Ele voltou a gracitar. E agora ela teve a certeza que foram gargalhadas. Gargalhadas felizes.
− Vou-me casar, Lunata − E desarmado, com um sorriso babado que lhe agraciou a expressão, acrescentou: − É pata, é marreca, eu sei, mas, caramba, é a mulher da minha vida!
E para Lunata que começava a não acreditar no amor, a vê-lo e a senti-lo escuro como um poço sem fundo, aquilo brilhou como um raio de sol na manhã. Fazia anos que o Pato Preto e a Senhora Pata estavam juntos. Tantos, quantos os que ela os conhecia, o que é o mesmo que dizer, desde sempre. E, queriam eles, ainda, selar para a eternidade (seja lá o que ela for) essa união?! Lunata sorriu. Afinal, sempre era possível!
© Texto e Foto: Sofia Bragança Buchholz. Reprodução interdita
Terça-feira, 26 de Setembro de 2006
Pela rua fora, o Simão e o Düss fazem, alegremente, os trabalhos de casa e treinam o abecedário: um, em arrotos, o outro, em peidos.
Eh pá, acabou-se, não os levo mais ao cinema!
Obrigada, à distintíssima Miss Pearls (sim, porque a vida não é, de facto, a mesma coisa sem Pérolas); ao Knuque que espero que, muito em breve, seja capaz de conduzir uma ambulância do INEM, vulgo, dos bombeiros (mesmo que seja com um autocolante de 90, atrás); à Joaninha; ao Papo-Seco que me alegra as sextas-feiras; ao Palhaço-Voador (amanhã, lá estaremos, no mesmo sítio, à hora mágica do costume); à simpática noiv` Inha; à Samantha; ao Padrinho, Mestre, Senhor e grande amigo JN.
Segunda-feira, 25 de Setembro de 2006
© Foto: REUTERS/Yannis Behrakis (2005)
Chateia-me, esta minha incapacidade para te resistir, esta minha passividade perante a tua vontade que me deixa, fragilmente, à mercê dos teus desejos e apetites.
Irritam-me, as horas que passo à tua espera, nos dia em que, simplesmente, decides excluir-me da tua vida, em pensamento e em facto, enquanto eu, ao invés, gasto a minha, a fantasiar como seria se estivéssemos, ou quando estivemos, juntos.
Assusta-me, esse teu alheamento, esse teu esquecimento, essa tua disciplina de, tão facilmente, me banires do teu pensamento, do teu dia-a-dia.
Magoa-me, a injustiça de me teres arrastado (à força da tua persistência e capricho) para o teu mundo, arrancando-me do meu, tirando-me do meu (parco) equilíbrio, prometendo-me mundos e fundos, acenando-me com a felicidade, para depois te fartares, qual criança mimada que enjoa as guloseimas que, voluntariosamente, tanto desejou.
Dói-me, a tua indiferença face à minha dor, quando a medo e em desespero ta confesso, e a ignoras ou subestimas, ao contrário de mim que te velo a tua, que a expio e a sofro, como se de minha se tratasse.
Exaspera-me, esta tua disponibilidade e responsabilidade para com o trabalho e os outros, aqueles que, ao pé de mim, nada te querem, cujo o amor que te têm, comparado com o meu, é ínfimo, cuja dedicação que te concedem, à beira da minha, é nula.
Enoja-me, esta minha disponibilidade, esta minha fraqueza, esta minha quase doença, que ao estalar dos teus dedos me faz, qual discípulo hipnotizado, seguir-te para onde quer que (me) queiras ou vás.
Agonia-me, deprime-me, mata-me, enfim, esta minha dedicação, este meu amor por ti.
E choca-me, mais do que tudo, perceber ser isso, seres tu, Meu amor - sejas, lá, tu quem fores - o que me move, o que verdadeiramente (me) interessa, o que, afinal, dá sentido à minha vida.
© Sofia Bragança Buchholz, 2006. Reprodução interdita.
Domingo, 24 de Setembro de 2006
Sexta-feira, 22 de Setembro de 2006
E não é que, agora, lhe deu para as "porcarias"!
Mas será que nem os gnomos escapam?!
Corrijam-me se estiver enganada: mas isto é o que parece, não é?!
Quinta-feira, 21 de Setembro de 2006
Quarta-feira, 20 de Setembro de 2006
Ah, não sabia! Procurou, com a curiosidade das meninas-mulheres, e encontrou. Pequenina, nostálgica, romântica, perdida no meio do nada… afinal, como ela mesma. Sempre pensara que lhe viera de Lua. Uma serenata de Lua. Ou, talvez, a nata, o âmago, a essência da Lua. Mas, não. E nem imaginava, sequer, quando deitada no seu Quarto Minguante, com a perna fugindo-lhe, baloiçando, fora da sua imaculada cama celeste, inquiria o Pó-Lunar. Ele, atarefado, afastava-se, para se voltar a aproximar, agregado, já, de forma diferente, com as suas tenuíssimas partículas dispostas de nova maneira, sempre em movimento, sempre mutante, apenas consistente na sua alvura. Dizia-lhe que não sabia, que a recordava eterna, desconhecendo-lhe ascendência ou genealogia, deixando-a, assim, com a resposta, ainda mais só naquele seu Mundo da Lua.
Mas Lunata era persistente, e como um felino, mal a noite caía, sob um céu estrelado que a iluminava, caçava o conhecimento com o entusiasmo e a sofreguidão daqueles para quem o saber é precioso.
E encontrou. Perdida na romântica Toscana, na – como ela – antiquíssima Itália, cercada a oeste por Lucca, a norte por Lammari, a este por Fratina e a sul por Cappanori, aquela que lhe esconde as origens, a que lhe enterra as raízes, a que, enfim, lhe dá nome, a bela e graciosa vila Lunata.
© Texto e Foto: Sofia Bragança Buchholz. Reprodução interdita.
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Terça-feira, 19 de Setembro de 2006
Personagens:
• Simão, 5 anos
• Eu
Cenário:
No Parque da Cidade, depois de termos mexido em patinhos, cavalinhos, cãezinhos, gatinhos… dirijo ao Simão, numa pronúncia manhosa africana, o “nosso grito de guerra”, selo de eterno companheirismo e sinal de bons momentos passados juntos:
Acção:
Eu: − Simão, Istála, aí, a bárebátána!*
Simão: − Não posso, tenho a mão cheia de mircóbios e não os quero espalhar.
* “Estala, aí, a barbatana” é a mesma coisa que “dá cá cinco”. Esta nossa expressão foi retirada do filme “O gang dos tubarões”.
Segunda-feira, 18 de Setembro de 2006
© Foto: Paola Ardizzoni/ Emilio PeredaUm dos poucos, capazes de me fazer soltar umas belas gargalhadas, enquanto me aperta o coração.
E conseguiu "volver" a fazê-lo.
Sábado, 16 de Setembro de 2006