Sempre esta angústia. Sempre este aperto no peito e nó no estômago, receando uma desgraça eminente. Uma partida, uma perda, uma morte, a saudade de alguém querido que nunca mais se verá. Protejo-me. Defendo-me. Isolo-me. Não se perde quem não se tem. Mas não nascemos sozinhos, do nada, e somos seres sociais. Existem sempre uma mãe e um pai. Uma família. Uma teia social que se vai rasgando com o tempo. Os seus fios vão-se partindo pelo caminho. Com ele, todos morrem, é o inevitável axioma da vida.
Paradoxalmente, existem momentos em que a dor nos consola.
"E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer, a memória é uma vasta ferida."
[Chico Buarque in "Leite Derramado"]
Mais uma noite na urgência de um hospital para me relembrar que começamos a vida frágeis, a chorar, dependentes do pai e da mãe e acabamo-la da mesma forma: uns velhinhos indefesos aterrorizados, com medo da solidão e da morte, a chamar pelos pais. (25.07.2012)
"O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram."
François La Rochefoucauld
Os bêbados são uns egoístas: fazem a "festa" deles e estragam a dos outros.
A característica que mais detesto num homem é a promiscuidade. O abanar de cauda, com a língua de fora a qualquer rabo de saias, seja manicura ou doutora. O baixar de calças em qualquer alcova, com a testosterona a falar tão alto, incapaz de o fazer distinguir o trigo do joio. Pena é que o género masculino não entenda este conceito como eu, e que uma catrefada de lambisgóias no curriculum seja desvalorizada e vista apenas como um desovar sem importância.
“Os homens nunca dizem: 'Já não gosto.' Dizem: 'O problema não está em ti, está em mim. Preciso de pensar, preciso de espaço...'. (... ) Os homens nunca o dizem porque querem que a mulher fique de reserva.”― António Lobo Antunes
Leviano é aquele que entra e sai da vida dos outros a pensar que não deixa marcas. “Somos responsáveis por quem cativamos”, disse, sábia, a Raposa ao Principezinho. E, depois, são elas que são consideradas matreiras…!
No meio da deterioração mental em que a doença, desafortunadamente, a acometia, num rasgo de lucidez, ela disse à filha:
‒ Tu precisavas era de um homem como o teu pai.
As mães são sábias até na demência!
Os homens ainda não perceberam que a sua característica mais sexy, mais apelativa, aquela que mais efeito surte sobre uma mulher, é a sua capacidade de proteção.
No comboio, ao meu lado, uma rapariga com sotaque brasileiro, conversa ao telemóvel. Fala num tom meigo, assertivo, tentando acalmar a voz do namorado que, do outro lado, adivinho exaltada. Trata-o por “quirido”, tenta um tema que o distraia da sua ira, diz-lhe que quer ver o cabelo dele… Ele, mal-encarado, continua a cuspir monossílabos ásperos. A certa altura, sentindo-o desligar-lhe o telefone na cara, exclama desesperada: “Nossa, qui grosso!”, e atira, frustrada, o telemóvel para cima da tábua aberta das costas da cadeira da frente. Com as lágrimas nos olhos, desabafa, ainda, sozinha: “Essa doeu, viu?!”. Eu não resisto, e interferindo na conversa que não me diz respeito, solidarizo-me com ela: são todos iguais: umas bestas!
Quem não é capaz de proteger a célula, jamais será capaz de proteger o corpo.