Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012

Coisas básicas

"Lembrei-me do que uma amiga minha uma vez numa festa nos contou, quando ao aparecer sem o namorado lhe perguntamos o que tinha acontecido: “Discutimos e deixou-me sozinha na rua. E digo-vos meninas, se nem para me proteger serve, é porque não serve para nada!”. Nunca me esqueci desta frase, porque acho que de facto é o mais básico que uma mulher espera de um homem."

 

[In "De Mãos Dadas com a Perfeição", Sofia Bragança Buchholz, Editorial Presença, pág. 133.]

 

publicado por Sofia Bragança Buchholz às 03:11
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Quarta-feira, 4 de Janeiro de 2012

Quem quer ganhar um livro?

 

Eu e a Editorial Presença temos três livros "De Mãos Dadas com a Perfeição" para oferecer. Para os ganharem têm de enviar fotografias com o livro "Simão, o Fantástico!" para o endereço: sofiabragancabuchholz@hotmail.​com. As três mais originais ganham. Mas atenção, é necessário um mínimo de 50 participantes, por isso, toca lá a divulgar, pelos amigos!

Adiram à página do Simão no Facebook para irem sabendo as novidades.

Boa sorte!

 

publicado por Sofia Bragança Buchholz às 18:56
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Quinta-feira, 17 de Novembro de 2011

Momento publicitário do dia

O meu novo livro "Simão, o Fantástico!" sai no dia 22 de Novembro e a editora está a fazer uma pré-venda com 50% de desconto. Para o adquirirem a este preço têm apenas que se registar no site da Presença (ou, quem já está registado, efectuar login). Após a encomenda feita, paga e expedida, 50% do seu valor é devolvido para a vossa conta. A conta-cliente é uma espécie de poupança, associada a cada utilizador, que serve como modo de pagamento no site da Presença.
Assim, o valor a devolver será de 6.45€, ou seja 50% do valor pago pelo livro. A devolução é feita para a conta-cliente só após a expedição do livro (isto é, a partir de 22/11).
 
Esta pré-venda tem a validade de 24h, ou seja, termina amanhã às 12h.
 
Estão à espera de quê? Terem em vossa casa o "Simão" por 6,45 € e ainda ficarem com saldo para comprarem outro livrinho qualquer. Olhem, comprem, por exemplo, o “De Mãos dadas com a Perfeição”, dizem que a autora é bestial! ;)
 
Já agora, conheçam também a página do Simão no Facebook.
 
publicado por Sofia Bragança Buchholz às 19:03
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Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2007

Sobre a Despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez: Reflexões (I)

"Quando entrei no carro, arrependi-me. A Marta estava feliz e eu pretendia fazê-la lembrar-se de um tempo que lhe custara tanto a esquecer. Que má que eu era, que egoísta. Mas a quem mais podia recorrer? À Nini, não tinha coragem. Restava-me a Marta. Ela conhecia o nome da médica, os procedimentos todos. Abortara de dois meses de gravidez e no mesmo dia estava em casa, sem os pais e os irmãos imaginarem sequer. Correra tudo bem e pagara uma fortuna. Afinal de contas era uma médica a sério, não uma “parteira” qualquer e isso tinha o seu preço. A Nini foi a Espanha, lembrei-me de repente. A Espanha eu não iria.
Pousei a cabeça no guiador do carro. Como era possível que trinta e quatro anos de convicções pudessem ser abaladas tão facilmente? Trinta e quatro anos de valores católicos por água abaixo quando me defrontava realmente com a situação. Sempre fui contra o aborto, embora não tenha ido votar no referendo, pois admitia que havia situações em que se poderia pôr em causa. Preferi abster-me. Mas, por princípio, sempre fora contra. Critiquei-o na Marta e condenei-o na Nini. Na Marta a falta de cuidado, a facilidade com que jogava com a sorte. Várias vezes lhe disse que, se não se dava bem com a pílula, deveriam usar preservativos, mas o António não queria e afinal também não foi ele quem acabou por engravidar. Na Nini, o absurdo da situação. Casada há um ano e meio, economicamente bem na vida, a planear ter filhos daqui a três e a fazer uma viagem de sonho daqui a um. Uma espécie de pequena volta ao mundo que uma gravidez inesperada iria alterar. Optou pela primeira, o que me pareceu repugnante. Fui frontal quando me pediu conselhos, não consegui ser de outra forma. O que era uma viagem comparada com um ser humano?
E agora estava eu ali, algures entre as duas. A irresponsabilidade daquela primeira vez e o medo de ter de abdicar de um homem que acreditava amar, por um filho que não planeara.


Entrei em casa da Marta, e, depois de muitas horas de conversa, chá e gargalhadas, consegui pô-la a falar do passado. Consegui saber tudo o que pretendia sem ela nunca imaginar que eu estava grávida e que punha seriamente a hipótese de fazer um aborto. Não queria que a minha vida fosse tema de conversa de café, embora soubesse que a maior parte das vezes as pessoas não o fizessem por mal. Às vezes chegava mesmo a interrogar-me se tinha verdadeiros amigos e se era realmente amiga de alguém, porque, durante toda a minha vida, nunca fora capaz de confiar assuntos que considerava sérios a outras pessoas. Só à minha irmã. Mas essa fazia parte de mim... essa era um prolongamento do meu eu.
Nessa tarde mais uma vez senti-me uma falsa amiga, pois a troco de uma declaração de confiança não confessei nada. Nem uma única palavra sobre o meu segredo. Vi-a chorar, lembrar-se de um passado que nunca esqueceria. Senti-me cruel, má, mesquinha, porque por defesa não era capaz de partilhar com ela uma dor que talvez a ajudasse de certa forma a sentir-se menos culpada. Não era a única no mundo... serviria isso de consolo?
A mim não servia e saí dali triste, muito triste, só capaz de encontrar conforto nos braços do João, que, como se adivinhasse, chegou a minha casa mais cedo nesse dia."


© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição", págs 82- 83;
Editorial Presença, 2003
 
publicado por Sofia Bragança Buchholz às 15:51
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Quinta-feira, 20 de Abril de 2006

— Sabe o que é que se passa, Doutor?

"...
Doutor, voltei a sentir-me mal. Piorei, e tenho dificuldade em respirar. É insuportável... às vezes acho que vou sufocar.
Ele fora realmente apanhado de surpresa. Acho até que demorou algum tempo a reconhecer-me. Talvez não quisesse acreditar no que via. Cheguei a ter medo da sua reacção, e a sentir mesmo, naquele momento, falta de ar e o coração a bater descompassadamente, mas relaxei quando o vi levantar-se com o estetoscópio na mão, sentar-se na cadeira ao lado da minha e dizer:
— Não se preocupe, vamos já ver isso.
Preparava-se para me puxar a camisa para cima, à frente, quando tocou o telefone. Levantou-se para o atender.
— Sim, já entrou — e após um segundo de silêncio: — Não, não tem importância.
Pousou calmamente o telefone. Voltou a sentar-se. Sorriu-me com um ar malandro. Estava calmo, muito calmo e controlava, com o seu charme, de novo a situação. Eu, pelo contrário, tremia, e, quando ele encostou o estetoscópio frio no meu peito, tive a sensação de o ouvir bater nos ouvidos do João. Ele olhou-me em silêncio, piscou-me o olho. Eu fiquei ali, imobilizada, novamente com o meu coração nas suas mãos.
Retirou o estetoscópio dos ouvidos e deixou-o pendurado no pescoço, como se fosse um colar. Tentava desabotoar-me a manga camisa para me medir a tenção.
— Há quanto tempo sente essa falta de ar? — perguntou, colocando à volta do meu braço a braçadeira do aparelho.
— Há três dias — respondi sem hesitar.
— E quando é que se sente pior?
— À noite.
— Quando está deitada?
— Também.
— Também? — fixou os seus olhos nos meus.
— A partir das nove horas, começo a sentir falta... — calei-me porque ele voltara a pôr o estetoscópio.
Olhei-o em silêncio, agora verdadeiramente compenetrado no que fazia. Ouvi a som da bomba a encher a braçadeira, senti a sua pressão forte no meu braço, e depois o suspiro, o longo suspiro, a esvaziar-se.
— A partir das nove horas começa a sentir falta? Só a partir das nove horas? — gozou, muito sério, usando exactamente as minhas palavras.
Eu corrigi.
— ... de ar.
— Só a partir das nove horas? — repetiu.
Eu fiz que não com a cabeça.
— E quando toca o telefone — acrescentei.
Ele sorriu, um sorriso diferente do que fizera até então, baixou ligeiramente os olhos, voltou a levantá-los, e só depois foi capaz de me olhar outra vez.
— E de manhã, e à tarde... — continuei.
Os nossos olhos encontravam-se de novo, mas os dele fugiam, para voltarem de seguida, arrependidos, presos aos meus. Mediamos forças com o olhar e ganhava eu, mas preferia vê-lo triunfar a ele, porque a sua segurança me fazia mais feliz do que a minha própria.
Voltei a entregar-me nas suas mãos, deixei-o fazer o diagnóstico.
— Sabe o que é que se passa, Doutor?
..."






© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição", págs 172-173;
Editorial Presença, 2003
publicado por Sofia Bragança Buchholz às 03:02
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Sexta-feira, 3 de Junho de 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...
Eram sempre bons os nossos reencontros, embora aquele tenha tido um sabor especial.
Em primeiro lugar, porque foi nesse dia que urinei para um frasquinho transparente com tampa vermelha, que me ia finalmente confirmar se trazia dentro de mim um filho do homem por quem estava apaixonada. Em segundo lugar, porque íamos pela primeira vez trocar presentes e o meu era muito especial.
Alguns dias antes, no mesmo em que retirara as surpresas dos ovos de chocolate para o Miguel, reservara um ovo para o João. Mas, em vez de o voltar a encher com bombons e guloseimas, coloquei nele uma cópia das chaves do meu apartamento. Voltei a fechá-lo, a embrulhá-lo com o maior cuidado e a guardá-lo para lho entregar na segunda-feira como combinámos. Ele traria também uma prenda, que eu não fazia a mínima ideia o que seria.
Nesse dia almoçámos juntos em minha casa. Uma pausa de três horas que iria ser compensada com trabalho até muito tarde, como ele próprio dissera.
E, depois de termos matado as saudades e a fome, foi a vez de trocarmos os presentes.
Estávamos deitados em cima da cama, ele vestido com umas calças de um fato azul marinho e uma camisa ainda completamente desabotoada. Eu em roupa interior branca, de algodão macio, que me dava um ar ainda mais frágil e me fazia parecer uma adolescente.
Pousei o meu presente no seu colo. Ele, gozão, passou-lhe as mãos, abanou-o, fez um ar intrigado, negou com a cabeça como se não fizesse ideia do que se tratasse, depois voltou a abaná-la afirmativamente, como se finalmente descobrisse o enigma.
Eu ri-me das suas expressões. Era óbvio que era um ovo. A sua forma, a maneira como estava embrulhado, não deixava qualquer dúvida. Mas o seu sentido de humor divertia-me.
— Acho que é um ovo — arriscou finalmente, quando se decidiu a abri-lo.
Fê-lo muito devagar, o que provocou protestos da minha parte.
— Vá lá, João, depressa! Estou mortinha para ver a minha prenda!
— Vês? Adivinhei! — concluiu, quando deu com um ovo embrulhado num papel amarelo metalizado.
Fiz-lhe sinal para continuar a abri-lo.
— O quê... queres que continue?
Eu própria o ajudei a rasgar um bocado do papel.
As duas metades de chocolate separaram-se e as chaves da porta do meu prédio e as do meu apartamento ficaram visíveis. Ele olhou-me com um olhar malicioso.
— Vais encontrar-me muitas vezes na tua cama quando chegares a casa...
— Espero bem que sim.
— E vou-te assaltar o frigorífico, quando estiveres para Lisboa.
Eu ri-me.
Mas depois falou a sério. Falou com o olhar e com o beijo que me deu. E com as palavras, porque o João era bom com as palavras e nunca as dispensava.
— Obrigado, minha querida.
E depois foi a minha vez, que, ao contrário dele, destruí rapidamente o papel do embrulho e que à primeira tentativa me fez perceber de imediato do que se tratava. Perdi o entusiasmo e veio-me uma atrapalhação que não soube esconder. Preferia voltar a embrulhá-lo, mas os olhos dele cravados em mim obrigaram-me a continuar. As letras estavam lá, na caixa, e a forma longa e rectangular não me deixavam enganar. Restava-me a esperança que dentro estivesse uma coisa completamente diferente, como eu fizera com ele.
— Eu não posso aceitar isto — admiti, desolada.
— Porquê?
Mas era óbvio porquê. Dentro da caixa estava um relógio simples, rectangular, com mostrador branco e numeração romana. Dentro de um estojo sofisticado, estava uma jóia lindíssima em ouro, onde se podia ler Cartier.
— Porque é que não podes aceitar? — insistiu, levantando-me com a mão o queixo, que entretanto ficara pregado nas minhas mãos, que seguravam frouxamente o relógio.
— Porque isto foi caríssimo.
— Não foi nada — garantiu, para me convencer.
Mas quase me irritou, porque eu não era parva.
— Não posso, João, desculpa. Isto vale imenso dinheiro.
— Não vale mais do que o que tu me deste.
— Não brinques comigo.
— A sério.
— Por favor, João, não me faças de estúpida.
E preparava-me para lhe entregar o relógio, mas ele travou-me a mão a meio do caminho.
— Ouve, Mariana, se bem entendi deste-me a chave que me permite entrar e sair da tua vida sem ter de te pedir licença.
— Preferia que só entrasses... — confessei, timidamente.
Ele sorriu e reformulou o que havia dito.
— Deste-me aquilo que me permite entrar na tua vida sempre que quiser, sem ter de te dizer nada, sem ter de te avisar.
Fez uma pausa à espera de uma expressão da minha parte que confirmasse o seu raciocínio.
Mas como não obteve resposta, tentou com o sentido de humor.
— Posso entrar aqui sempre que quiser, roubar-te um projecto, um quadro... este, por exemplo. — Apontava para um Cargaleiro que me tinha sido oferecido pelo meu pai.
E conseguiu o que pretendia, porque arrancou de mim um sorriso.
— A liberdade não tem preço, e eu tenho aqui um pedacinho da tua.
Abanou ligeiramente as chaves que segurava na mão direita.
— És muito bom, João...
— Sou? — perguntou, sem saber bem a que é que eu me referia.
— A argumentar. Darias um excelente advogado.
E, embora ele tenha feito os possíveis para disfarçar, pareceu-me vê-lo sorrir por dentro, triunfante, porque o João adorava ganhar.
— Mas a mim não me convences! — disse por fim, concluindo o meu pensamento.
Olhei novamente para o relógio cheia de vontade de ficar com ele. Era lindo. Como era lindo ele ter-se lembrado de mim daquela forma, e saber que o meu preço era alto... Mas era exactamente por aí que eu não queria entrar. Toda a minha vida dividira contas com os meus namorados e, mesmo quando não o fizera, a diferença a meu favor fora perfeitamente aceitável. Toda a minha vida fora assim e agora estava ali, diante de uma situação que nunca me ocorrera. Diante de um homem com muitíssimo mais poder de compra do que eu, que nem meu namorado era, porque, bem vistas as coisas, e chamando-as pelos verdadeiros nomes, por mais que eles doessem, era amante. Não queria ter um preço, porque algo dentro de mim, provavelmente fruto da minha educação, me dizia que essas coisas mais tarde ou mais cedo se pagavam.
Voltei a fechar o relógio no estojo e procurei as palavras que menos pudessem magoar.
— Adorei, é mesmo muito bonito, mas sei que entendes que não posso aceitar.
— Por favor, Mariana.
Tive vontade de colocar o relógio no pulso, atirar-me para cima dele, enchê-lo de beijos e pagar-lhe na moeda mais valiosa que tinha, que era o meu amor por ele.
Coloquei o estojo sobre as suas pernas.
Ele as chaves sobre as minhas.
— O que é que queres dizer com isto? — perguntei, surpreendida.
— O que já te disse... que isto vale tanto ou mais do que o que te dei e que, por isso, também não vou poder aceitar.
— Isso é chantagem!
— Não é, não, minha querida.
— Mas...
Rodou sobre mim e tapou-me a boca com a mão.
— Não se fala mais no assunto, decidimos assim, está decidido.
Imobilizou-me com o peso do seu corpo. Prendeu-me as mãos ao nível da cabeça e, com os dentes, puxou-me a camisola interior para cima de forma a poder beijar-me os seios.
— Amo-te — deixei escapar pela primeira vez desde que nos conhecíamos.
— Quanto?
— Quanto? — perguntei, por entre uma gargalhada.
— Sim, quanto? Diz um número.
Tentei lembrar-me do número maior que conhecia. Ia começar a enunciar um composto por muitos noves, quando me lembrei de repente das aulas de matemática.
— Mais infinito — respondi, deixando-me ir para onde os movimentos do seu corpo me faziam tender.


Quando entrei na casa de banho, já ele tinha saído há mais de meia hora. Vi pousado em cima do bordo da banheira o estojo que ele me oferecera.
Soltei uma exclamação de surpresa, mas, ao mesmo tempo, não consegui deixar de sorrir.
Abri-o. Dentro estava o relógio e um pedacinho de papel higiénico que a tinta da Montblanc borratara completamente. Mesmo assim consegui ler: “Se pensavas que abdicava da minha prenda, estavas bem enganada. E, pelos vistos, este era o único processo de a conseguir. Já devias saber que não desisto facilmente. Beijos João”.
Pus o relógio no pulso. Ficava-me bem, ficava-me mesmo muito bem!
Corri para o quarto e peguei no telemóvel. Dava sinal a chamar. Óptimo, significava que ele ainda não o tinha desligado. Quando ouvi a sua voz do outro lado, disse:
— És tramado.
— E tu já o devias saber.
— Vemo-nos logo à noite?
— Amanhã.
— Hoje — ordenei, disposta a não ceder desta vez.
— Está bem, mas aponta lá para muito tarde, e pouquinho tempo, pode ser?
— Pode.
Desliguei o telefone.
Deitei-me em cima da cama e voltei a olhar para o relógio. Reparei que não estava certo. Mas, naquele momento, estava-me perfeitamente nas tintas para o que estava certo ou errado."

© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição" págs. 76-80; Editorial Presença 2003
 
publicado por Sofia Bragança Buchholz às 04:46
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Segunda-feira, 18 de Abril de 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...

Ao todo foram talvez quatro, as vezes que nos encontramos na clínica para nos amarmos.
E se, da primeira vez, a iniciativa foi dele, de todas as outras a ideia partiu de mim. Ele hesitava, sem nunca mencionar porquê, sugeria o hotel ou então acabava por aparecer em minha casa. Mas daquelas três vezes, o tempo — escasso — jogara a meu favor, e ele, apanhado na teia do desejo, fora forçado a ceder.
Encontrar-me ali com ele foi a maneira melhor que arranjei de entrar no seu mundo, de partilhar a sua vida oficial sem ser de uma forma clandestina. E isso excitava-me. Excitava-me profundamente, o que acabava por se reflectir nele também, pois era arrastado por mim.
Os nossos melhores encontros de amor foram ali, onde o sexo era rápido, mas intenso, onde o cenário era pobre, mas a performance perfeita. Na sua cadeira, encostados à parede, na mesa, com parte da roupa colada a nós, deixávamo-nos ir para onde a paixão nos levava, algures onde não havia limites. Abafávamos gemidos, evitávamos barulhos, e ao fazê-lo explodíamos em prazer, porque uma mão que nos tapa a boca e um corpo que se move mais devagar estimula fantasias e elas aumentam de dimensão quando adquirem o gosto do pecado, o sabor do fruto proibido. Ali era a sala do responsável máximo por aquela clínica, onde deviam ser atendidos doentes, onde era suposto estar o médico, o técnico altamente especializado a fazer diagnósticos e prognósticos. Ali estávamos nós, misturados um no outro, um só, confundidos no suor, na saliva, no ritmo cardíaco. Ali estávamos nós, entregues um ao outro, colados, como uma lapa a uma rocha, em que só uma pancada certeira, apanhada de surpresa, nos faria descolar.
Naquele dia tocou o telefone, e não sei aonde o João arranjou folgo, pois a voz tremia-lhe, como me tremeria a minha se tentasse falar. Estava sentada em cima dele, com ele dentro de mim, as minhas costas contra o bordo da secretária a deixar-me um vergão vermelho na altura da cintura, quando ele passou a mão direita sobre a minha cabeça numa ginástica que não sei explicar, alcançou o telefone e voltou a passá-lo para o mesmo lado, mas agora por detrás das minhas costas. Com a outra mão desviou a minha cara do bocal, e eu fiquei a arfar contra o seu peito, descompassadamente.
— Sim, Isabel... — ouvi-o engolir para disfarçar ou controlar o “el” que lhe saiu de uma forma esquisita, ou talvez para ganhar fôlego para prosseguir a frase —, diga-lhe que espere cinco minutos, que eu estou a acabar de atender uma doente.
E desligou o telefone. Soltou a mão esquerda que, pousada na minha cabeça, me puxava contra si e, juntamente com a direita, passou-a nos cabelos num gesto nervoso, respirando fundo como se tentasse recompor-se. Eu continuei encostada a ele, a ouvir o seu coração, a sentir o seu latejar dentro de mim. As suas mãos pousaram agora nas minhas costas e interpretei-as como um sinal para recomeçar. Lentamente o meu corpo começou a mover-se, à procura do seu, do seu ritmo, do nosso ritmo, mas ele tentou parar-me com a voz, com o som do meu nome.
— Mariana...Eu continuei, e, como ele não se mexia, concentrei-me em mim, porque às vezes, no amor, somos egoístas. Movi-me, beijei-o, voltei a mover-me. Queria dar ao meu corpo o que ele pedia, queria terminar o que começáramos.
— Mariana... — repetiu.
E eu encostei-me mais a ele, usei as mãos para o persuadir.Mas de repente senti a pancada, certeira, o som oco da pedra contra a pedra, bem na minha cabeça.
— A Luísa está lá fora...
O meu corpo traía-me, falava por mim.
— Deixa que ela nos veja assim abraçados...
O meu corpo não sabia que, quando as lapas não se separam da rocha à primeira pancada, acabam geralmente desfeitas à segunda.
— Mariana, por favor, a minha mulher está lá fora. Eu não posso...
E eu levantei-me rapidamente. Olhei à minha volta à procura de pedaços de mim. Estava inteira. Felizmente saíra dele antes de ser esborrachada.
Ele tentou ainda agarrar-me a mão, mas esta, no lado oposto da sala, ajudava-me já a vestir a camisola de gola alta que, ao passar-me na garganta, ainda a apertava mais.
Quando o olhei antes de sair, lembro-me de me ter questionado como é que a mulher dele não iria perceber que ele estivera a fazer amor comigo, porque eu perceberia pelos seus olhos, pelos seus cabelos, pela sua voz... E lembro-me de isso me ter dado um certo gozo, um gostinho de vingança!
— Mariana...
Parecia que era a única coisa que conseguia dizer ou fazer, porque continuava sentado na cadeira e, apesar de ter vestido as calças, a camisa continuava desabotoada e a gravata e a bata espalhadas pelo chão.
Eu resolvi facilitar-lhe a vida e, se o fiz, não foi por altruísmo, mas sim porque entendi que assim facilitava a minha também. Fiz um gesto com a mão, como se lhe pedisse para parar.
— Ouve, João, não digas nada... não digas nada.
Esta fora apenas a primeira etapa da prova de engolir sapos em que me metera.
No corredor estava a mulher dele, à espera que eu saísse para entrar. E se na primeira prova eu perdera, nesta queria sair vencedora. Passei por ela e, sem verdadeiramente a olhar, medi-a de alto a baixo. Tive a sensação, mas pode ter sido só a sensação, que ela fez comigo a mesma coisa. Era morena, de cabelos lisos pelos ombros. Devia ser sensivelmente da minha altura, mas a sua estrutura óssea era bastante mais larga. Ao contrário do que sempre pensei, não a achei bonita, mas tinha “pinta” e estava muito bem vestida.
Quando nos cruzámos, levantei bem a cabeça, como a minha mãe sempre nos ensinara a fazer nas situações difíceis. E o que mais me surpreendeu e me apanhou mais uma vez desprevenida, é que ela me olhou, me sorriu e me dirigiu a palavra:
— Boa tarde.
Eu entupi. Não saiu nenhum som. A segunda prova estava superada, mas a pontuação era zero. Senti a minha cabeça baixar e, quando deixei a clínica e me dirigi ao elevador, achei que eu não era eu, mas sim uma tartaruga e que a minha cabeça se escondera na carapaça. Fiquei parada em frente ao elevador, lenta como as tartarugas, e só depois de muitos minutos estendi o dedo para o chamar.
A porta abriu-se e saiu o Francisco. Decididamente não estava nos meus dias, se bem que desta vez até nem me tenha saído muito mal.
— Olá Mariana, como está?
— Olá Francisco, bem disposto?
— Nem por isso, mas, depois de ver uma pessoa tão bonita como a Mariana, fica-se logo bem disposto.
Eu sorri maliciosamente e estendi-lhe a mão, porque sabia que o Francisco era um gentleman, um beija-mãos.
E esse foi o momento de glória desse meu dia tão inglorioso e valeu a pena, porque foi a única coisa nesse dia que me fez sorrir. A minha mão, aquela mesma mão que momentos antes passeara no João e em mim própria, estava agora perto dos lábios do Francisco. A minha mão, aquela mesma mão que testemunhara há momentos o nosso amor e que cheirava a sexo, pousava agora perto do seu nariz. E quando entrei no elevador, para descer até ao rés-do-chão, imaginei o Francisco na sua sala, agarrado à sua mão, que cheirava à minha, a fazer aquilo que eu e o João não acabáramos.
Segui até ao carro com o meu pequeno triunfo a esconder as minhas grandes derrotas.
Entrei no parque de estacionamento e passei pelo carro do João, que estava a dois lugares de distância do meu. Veio-me a tristeza, a humilhação, a falta de dignidade à memória. E a vingança, esse sentimento mesquinho e primário veio também, e instalou-se nas minhas mãos, que seguravam as chaves do meu carro. Contornei o seu automóvel lentamente, uma, duas vezes. As chaves apontadas a ele, prontas a arranharem, a magoarem.
Mas outro sentimento protegeu-me deste, e não foi o bom senso. Enquanto o exteriorizava, deixei que uma série de expressões faciais e verbais acompanhassem o meu raciocínio, baixando assim o nível, até ao limite aonde a minha raiva me obrigou.
— Puta! O que é que esta tipa tinha que vir fazer aqui?! Ela não o larga! Não o larga!Provavelmente está lá em cima toda meiguinha a...
E imaginá-los a fazer amor deixou-me ainda mais furiosa. Entrei no carro e bati a porta com força. Ainda o sentia dentro de mim e, se me tocasse a mim própria, provavelmente ainda encontraria o espaço que o seu corpo conquistara ao meu. E era de sexo que falava, porque já não queria falar de outras coisas. Não queria falar do meu filho, porque com ele não conquistara só espaço no meu corpo, mas também na minha alma, na minha vida.
Tive vontade de vomitar, cheguei mesmo a abrir a porta do Golf. Não o queria partilhar com ninguém, queria-o só para mim. E, provavelmente, ela também. E se lutava por ele estava no seu pleno direito, mas eu detestava-a, ai como a detestava!"




© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição" págs. 153-157; Editorial Presença 2003

 

publicado por Sofia Bragança Buchholz às 03:18
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Quinta-feira, 24 de Fevereiro de 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...

Sou a terceira filha de uma união perfeita entre um advogado e uma bióloga. Digo terceira, porque apesar de ter partilhado durante nove meses a placenta com a minha irmã e de termos nascido no mesmo dia, ela, como iria acontecer sempre na nossa vida, decidiu-se primeiro e resolveu encarar o mundo antes de mim.
Tive uma infância feliz, daquelas infâncias invejáveis, que nem o meu problema cardíaco congénito conseguiu estragar. Passei Verões inteiros na praia e na piscina, Setembros na Quinta rodeada de primos e amigos e mesmo estando proibida de fazer esforços, como andar de bicicleta ou correr, e ser “vigiada” por um adulto vinte e quatro horas por dia, muitas vezes a minha imaginação se soltou e suplantou todas as limitações que me eram impostas. Nunca me vou esquecer da areia macia e quente a acariciar-me o corpo depois dos banhos frios no mar. Dos gelados à hora do lanche. Da avó a chamar-nos e nós a adiar-mos sempre a partida, quando o pai chegava ao fim da tarde, para nos vir buscar. Das algas que vendíamos como mercadorias preciosas. Dos camarões que apanhávamos como se fossem lagostas. Dos caranguejos que perseguíamos. Das “amonas” na piscina. Dos saltos, da prancha, do meu primo Henrique. Dos pic-nics no rio. Dos bolos da Ló. Não sei porquê, mas não recordo dias frios na minha infância. Noites sim, às vezes, chegavam mesmo a ser assustadoras.
Na minha opinião, uma das vantagens da minha doença foi o adiamento da nossa entrada no Colégio Alemão. Fomos dispensadas do Kindergarten, mas em compensação recebemos, durante dois anos, aulas privadas em casa. A directora do colégio era nossa vizinha e amiga da minha mãe e, pacientemente, a sua filha Astrid, todos os dias, durante três horas, brincava connosco e ensinava-nos alemão. Era a nossa única obrigação naquele tempo em que reinava a liberdade total.
...

Vestiram-nos de igual, aqueles vestidinhos de fazenda ao xadrez azul e vermelho que tinham sido comprados para a ocasião, pentearam-nos os cabelos e serviram-nos o pequeno-almoço que, noutras circunstâncias, teria sido o melhor da minha vida: torradas, leite com Todi, gelatina de morango e um Super-Maxi para cada uma! No fim ainda nos entregaram um cone enorme, cheio de chocolates, rebuçados e outras surpresas, para ser aberto como mandava a tradição alemã, na escola, no primeiro dia de aulas.
— As nossas meninas estão umas senhorinhas! — dizia a minha mãe orgulhosa à Ló, enquanto abria a porta do carro para nós entrarmos.
E a outra respondia como se fossemos na verdade suas filhas, que era assim que ela nos sentia:
— Estão tão bonitas!
E o meu irmão Dinis a ameaçar:
— Vejam lá se não chateiam, ouviram? — E avisava a minha mãe: — Ó mãe, diga-lhes para elas não me chatearem, está bem, mãe?!
E continuava para nós, a desbobinar um rol de regras:
— Não falem comigo quando estou com os meus amigos. Não vão ter comigo quando estou com os meus amigos...
E, como a minha mãe o interrompia para o chamar à atenção, ele sintetizava, sem ela o ouvir, mas para nós numa voz suficientemente clara:
— Não falem comigo, ouviram?! Simplesmente não falem comigo!
“Como podiam ser parvos os rapazes com onze anos!”, teria eu pensado hoje, mas naquela altura, parecera-me suficientemente ameaçador.
E depois os beijinhos. Um beijinho ao pai, que estava também orgulhoso; um à avó Margarida, que tinha vindo de propósito a nossa casa para assistir àquele evento; um à Ló, com abraço apertado incluído; e um ao Lord, que era o nosso Basset Hound, mais roubado do que consentido, porque a minha mãe estava presente e achava uma porcaria deixar que o cão nos desse beijos na cara.
Toca a andar, que já é tarde, lá nos meteu a mãe no carro, o Dinis sempre a “rosnar”, e eu a olhar para trás, pelo vidro traseiro, a acenar interminavelmente à Ló e à avó, como se fosse numa viagem muito longa e para muito longe, quando na realidade me afastaria apenas dois quarteirões e estaria de volta à uma hora da tarde.
São tão grandes as distâncias na infância e tão longas as horas quando somos crianças... que nem nos passa pela cabeça como, num passe de mágica, elas se encurtam e aceleram, contra nossa vontade, quando nos tornamos adultos."

 

 

 

© Sofia Bragança Buchholz

In "De Mãos Dadas com a Perfeição", págs. 104-105, 108-109; Editorial Presença 2003

 

publicado por Sofia Bragança Buchholz às 02:19
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Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2005

De Mãos Dadas com a Perfeição

"...
- Desces? — ouvi-o perguntar pelo intercomunicador do prédio.
- Dá-me só mais dez minutos, está bem? — pedi, carregando no botão para lhe abrir a porta da entrada.
- Mariana?
- Sim?
- Importas-te que espere cá em baixo? É que está um dia óptimo... parece Verão!
- Claro que não! — respondi. — Eu desço já.
Tinha-me telefonado há meia hora atrás, ainda eu dormia a sono solto, a antecipar para a manhã o encontro combinado para a tarde. E, apesar de estar ensonada e ressacada das sucessivas “caipirinhas” que bebera na véspera, aceitei prontamente ir tomar café com ele a Leça.
Sequei o cabelo rapidamente, engoli um copo de leite e corri para a porta, fechando-a atrás de mim.
Cá em baixo, ao sair para a rua, a claridade encandeou-me e fez-me colocar os óculos escuros enquanto o procurava. Depois de alguns minutos, descobri-o finalmente, e foi com um sorriso malicioso que me aproximei do descapotável onde estava sentado.
- Viva! Até que enfim que vejo um homem bonito dentro de uma “bomba” destas!
Ele voltou-se surpreendido na minha direcção e sorriu ao reconhecer-me.
- Geralmente são feios ou velhos! — acrescentei.
E, tirando os óculos escuros para o ver melhor, colocando-os na cabeça como se fossem uma bandolete, continuei:
- Gosto do teu carro, sabias?!
Ele abriu a porta e saiu do automóvel para me cumprimentar. Depois, ficámos os dois a olhá-lo, a admirá-lo como se fosse uma obra de arte.
- Um espectáculo, João! — disse mais uma vez, sem conseguir esconder o encantamento que este tipo de carros produzia sobre mim.
Ele, orgulhoso, sorria como um miúdo que mostra a um amigo um brinquedo novo. Mas eu não lhe ficava atrás. Fascinada, continuei à volta do carro, deslizando a minha mão lentamente sobre ele como se o acariciasse. Sentei-me no lugar do condutor. Senti os estofos macios de pele. Agarrei com firmeza o volante...
Ele baixou-se para ficar à minha altura e, vendo o meu entusiasmo, perguntou:
- Queres guiá-lo?
- Não sabes com quem te metes... — avisei, voltando a cabeça na sua direcção.
- Corro os meus riscos...
E, antes que mudasse de ideias, respondi:
- “Bora” lá!
Deixei-o entrar, ajustei o banco e os espelhos, pus o cinto, meti primeira e arranquei, sem sequer ter feito pisca.
- Não sabia que gostavas tanto de carros — comentou divertido.
- Isto não é um carro, João! Isto é...
Mas não acabei a frase porque me faltou o termo certo.
Ele riu-se. Mas por pouco tempo, porque na primeira recta viu-me acelerar até aos noventa.
- Cuidado com os cruzamentos, Mariana — aconselhou a medo.
Eu nem o ouvi. Entrei na Av. Marechal Gomes da Costa e carreguei no acelerador a fundo, só abrandando quando o ponteiro atingiu os cento e vinte.
Tive a sensação de que ele se encolheu no assento e, por várias vezes, pareceu-me que carregou instintivamente num travão imaginário.
- Não tenhas medo... — tranquilizei-o. — Nunca bati.
Ele respondeu numa voz que mal pude ouvir:
- Fico muito mais tranquilo...
Eu continuei.
- Foram sempre os outros que vieram contra mim... — E, desviando o olhar para ele, o que o fez ficar ainda mais aflito, acrescentei na brincadeira: — Mas por culpa minha!
Ele riu-se, novamente sem vontade, e respirou fundo.
Tinha subido a Av. da Boavista e voltado a descê-la. Meti outra vez pela Marechal e entrei nas ruas estreitas da Foz, sempre a uma velocidade considerável.
O João não disse nada, nem me perguntou aonde é que eu ia e, quando me viu parar em frente a casa, suspirou aliviado.
- Quase me matavas de ataque cardíaco, Mariana! — confessou, levando a mão ao peito, mas descontraindo-se finalmente no assento.
Eu agarrei-me ao seu pescoço e, ainda eufórica, enchi-o de beijos.
- És um homem de bom gosto! Não há nada que chegue às marcas alemãs! — exclamei, fazendo referência aos dois carros que lhe conhecia, e ao terceiro que suspeitava ser o da sua mulher, pois estava constantemente estacionado em frente da sua casa, mas que ele nem imaginava que eu já tinha visto.
Depois informei abrindo a porta do carro:
- Esqueci-me da carteira, vou buscá-la num instante.
E, ainda referindo-me ao que dissera anteriormente, acrescentei em alemão, como ouvira num anúncio: — Die deutsche Technologie!
Quando voltei a entrar no carro, ele estava sentado no lugar do condutor.
Eu desafiei-o com um ar trocista:
- E depois são os homens que têm fama de gostar de adrenalina...
Ele agarrou-me a cabeça com ambas as mãos, como se me fosse bater ou beijar, não sei, e, chegando a sua cara muito perto da minha, disse:
- És doida, Mariana. És completamente doida...
- Porquê? — quis saber, quase tocando os seus lábios.
- Porque passaste um semáforo vermelho e porque...
Não o deixei concluir. Pressionei o seu lábio superior entre os meus, devagarinho.
- Porque...? — murmurei.
Ele não respondeu e eu continuei...
- Gostas? — perguntei depois baixinho.
- Gosto — confirmou, respirando fundo, rendendo-se às minhas carícias.
E, olhando-me com um olhar de desejo, apenas a milímetros do meu, sugeriu:
- E se não fossemos tomar café a Leça?"

© Sofia Bragança Buchholz
In "De Mãos Dadas com a Perfeição", págs. 30-33; Editorial Presença 2003
 
 
publicado por Sofia Bragança Buchholz às 04:31
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