O meu amor já não é assim grande, grande, grande. Como um dia foi e pensei vir a ser, para sempre [, por ti]. O meu amor desencantou-se, esmoreceu, cansou-se com a vida. Esgotou-se com a experiência e com os anos. Tornou-se céptico. Já não é eterno, imenso e incondicional. Tornou-se prático e cauteloso. Liberta-se em doses pequeninas para não ser desperdiçado em vão. Doses milimetricamente medidas para não causarem efeitos indesejados se forem rejeitadas. O meu amor tornou-se à prova de dor. Já não é, assim, grande, grande, grande como deve ser o amor.
Saíste da minha vida pela mesma porta que entraste. [Mas] Chegaste, pobre, de mãos vazias, [e] partiste, rico, com elas a transbordar. Levaste contigo os meus afectos, os meus sonhos, os meus projectos. Dei-tos, em troca de [falsas] promessas, mentiras, [infundados] votos. Por [efémeros] abraços, carícias, canções de embalar, entreguei-te o meu corpo, a minha alma, a minha auto-estima. Saíste de malas cheias, farto, de ego repleto e bagagem pesadíssima na mão. Sangrando por entre os teus dedos, levaste o meu coração; o meu amor, a minha existência, deixando-me, assim, despida, ao frio. Sem pulso. Sem sangue. Sem esperança. Sem vida.
Mas não há forma, não há verso, não há leito para este fogo, amor, para este rio. Como dizer um coração fora do peito? Meu amor transbordou. E eu sem navio.
Gostar de ti é um poema que não digo que não há taça, amor, para este vinho não há guitarras nem cantar de amigo não há flor, não há flor de verde pinho.
Não há barco, nem trigo, não há trevo não há palavras para dizer esta canção. Gostar de ti é um poema que não escrevo. Que há um rio sem leito. E eu sem coração.
"Uma Flor de Verde Pinho" - Letra: Manuel Alegre; Interpretação: Carlos do Carmo
Sabes, já não sinto a tua falta. Já não me interessa o que dizes ou fazes; onde foste ou vais. Não quero saber com quem andas, quem conheces, com quem estás ou sais. Não quero saber quem beijas, quem despes, quem amas ou trais. Não me importam os teus gestos, as tuas palavras, as tuas mentiras ou verdades. Nem se ris ou se choras, se és feliz ou se sofres. Não importa. É irrelevante. Porque eu, Meu Amor, – lembras-te? – já não tenho coração.
Não gosto do Natal, Meu Amor. Lembro-me de ti. Recordo-me das tuas promessas, dos teus projectos, dos teus planos a dois. Dos teus beijos. Da rapidez como se extinguiram. Como brilharam em Dezembro para logo se apagarem em Março. Da incoerência das tuas palavras, contrárias ao tempo vivido: quentes no Inverno, gélidas, já, no Verão. Não gosto do Natal; da solidão que sinto; da ausência das tuas mãos nas minhas. Da falta da tua voz, das canções, da lareira, do presépio, do filho que nunca chegamos a ter. Não gosto do Natal, recorda-me o tempo em que, num desvario de paixão, te dei o meu melhor presente: arranquei do peito o coração e ofereci-to, para sempre, embrulhado carinhosamente em todo o meu amor.