Fui, um destes dias, à igreja porque me apetecia estar com Deus. Depois de algum tempo de meditação, levantei-me e fui observar os altares. Quis registar em imagem as expressões dos mártires, mas fui repreendida por uma senhora que me disse que o padre não deixava tirar fotografias. Lembrei-me de imediato que aquela não era a casa Deus. Que Ele não morava ali. Que Deus habita é nos nossos corações.
De repente, isto faz-me lembrar uma relação entre homem e mulher: ela fala, fala… Ele não está nem aí para a ouvir. Ou melhor, nem a entende. Ecoa no seu cérebro, ao longe, um “blá, blá, blá” indecifrável. A meio de um assunto importante para ela, ele disparata. Ela fica furiosa, ele pira-se, irritando-a ainda mais. E e ele ainda fica admirado por ela reagir assim; ora, por que será?!
Lunata desceu dos sapatos altos, quando chegou a casa. Despiu-se do vestido, enquanto percorria o corredor, deixou cair a máscara ‒ de falsa felicidade ‒ que usara nessa noite. Vinha da festa, daquela que lhe disseram para ir. Mais uma, desde que Demiurgo a deixara. “Procura outros homens, para esqueceres o que já não te quer”, aconselhara-a, uma Sábia. E Lunata procurou. Dia após dia, festa após festa, experimentou conversas e cheiros, bocas e corpos. E os dias somaram-se numa solidão exponenciada por uma busca frustrada, porque ninguém preenche o lugar daqueles que ainda amamos. E nem a música faz a vez de um abraço verdadeiro, nem a dança, a do sexo com amor, nem a excitação da descoberta o conforto de um porto seguro.