Domingo, 30 de Novembro de 2008
Personagens:
• Simão, 8 anos
• Eu
Cenário:
O Simão apanhou-me de lágrimas nos olhos. Quis saber o que tinha; respondi-lhe que nada. Insistiu, e expliquei-lhe que, às vezes, a vida dos adultos é complicada. Para desvalorizar o assunto, pedi-lhe a opinião e perguntei-lhe o que costumava fazer para se sentir melhor, quando estava triste. Respondeu-me convicto do seu método:
Acção:
– Bater no meu irmão.
[Ai, quem me dera! Quem me dera poder fazer o mesmo, caraças!...]
[também postado aqui]
Sábado, 29 de Novembro de 2008
Robbie Williams e Nicole Kidman- Something Stupid
Azar o teu [Meu ex- Amor]!
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008
Oberon, Titania and Puck with Fairies Dancing, ca.1785 - William Blake
É, de facto, imaginação romântica dizeres que estás irremediavelmente apaixonado por mim, que sou a mulher mais importante para ti, aquela que te habita os sonhos e os masculinos desejos, e não me quereres sequer ver [ou falar].
Sou, certamente, a Rainha das Fadas, mas sou real, de carne e osso, de sentimentos e afectos, não uma platónica musa que existe apenas para servir a tua inspiração e te acender o fogo d`alma.
Se não tivesse nascido, Deus teria, sim, que inventar-me: porque sou Única; Especial. E tu acabas de me perder. Para sempre [meu ex-Amor].
Quinta-feira, 27 de Novembro de 2008
Personagens:
• Simão, 8 anos
• Tomás, 10 anos
• O tio S.
• Eu
Cenário:
Sabendo do gosto – e queda – do Simão pelas artes dramáticas, resolvemos levá-lo – e ao irmão – ao teatro.
Era uma peça diferente, intitulada “Boca de Cena”, que decorria durante um jantar.
Várias vezes eram feitas alusões satíricas ao tipo de alimentação que fazemos, desde o pobre leitãozinho que só queria ser uma estrela e que acaba assado no forno a uma exorbitância de graus; até ao desafortunado Ronald McDonald que, deslizando nuns patins de rodinhas, aparece para nos trazer uma Happy Meal, e termina assassinado pelo cozinheiro de serviço. Foi exactamente nesta cena, em que este persegue de faca em riste o infeliz boneco, que o Simão – que adorou a peça, diga-se, e que estava previamente avisado que esta era pura ficção e dos eventuais sustos que algumas partes lhe podiam causar – atemorizado com a ideia da extinção da sua refeição favorita e do seu restaurante predilecto, não resiste, se levanta e, dramaticamente, grita, implorando aos actores:
Acção:
– Nãoooo! O McDonald não! Não matem o Ronald McDonald! Pleaseeee! [vídeo com a cena em questão aqui]
Quarta-feira, 26 de Novembro de 2008
Mas não há forma, não há verso, não há leito
para este fogo, amor, para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.
Gostar de ti é um poema que não digo
que não há taça, amor, para este vinho
não há guitarras nem cantar de amigo
não há flor, não há flor de verde pinho.
Não há barco, nem trigo, não há trevo
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.
"Uma Flor de Verde Pinho" - Letra: Manuel Alegre;
Interpretação: Carlos do Carmo
Terça-feira, 25 de Novembro de 2008
Segunda-feira, 24 de Novembro de 2008
© Foto: ? / Na foto: Daniela Pestova
Para me proteger dos maus: como tu.
Domingo, 23 de Novembro de 2008
pedimo-las emprestadas aos poetas:
Era a tarde mais longa de todas as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca,
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite não surgiste
Na tarde tal rosa tardia
Quando não nos olhamos não tardamos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde não ficámos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite,
Para haver outro dia.
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e algum corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.
Adaptado do poema "Estrela de Tarde" de José Carlos Ary dos Santos;
Interpretação: Carlos do Carmo
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2008
© Foto: ? / Na foto: Marija Vujovic
Domingo, 16 de Novembro de 2008
Personagens:
• Simão, 8 anos (aka, Senhor António)
• Eu
Cenário:
Ao entrar no quarto do meu sobrinho, pergunto-lhe, em forma de cumprimento:
Acção:
– Então, como é que vai a vida?
– Muito mal! Estou desempregado! – Responde em tom desolado.
– Ai sim? – E lembrando-me de que ele, nas suas brincadeiras de faz de conta, costumava encarnar um personagem que tinha um restaurante, alinho na dramatização:
– Mas, e o seu restaurante? O Senhor não tinha um restaurante?
– Faliu – informa-me, fatalmente.
– Oh, coitado, Senhor António!... – Lamento, dirigindo-me a ele no seu nome fictício.
Ao ver o meu desânimo, ele chama-me à parte e sussurra-me como quem conta um segredo que não se quer ouvido por mais ninguém:
– Vendi-o. Deu-me muito dinheirinho; está guardado. Mas, aqui entre nós, para todos os efeitos, para os outros, estou desempregado, ok?! [Também postado aqui]
Sábado, 15 de Novembro de 2008
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2008
Todas as sextas-feiras, vou ao cinema. Como podem imaginar, sucedem-se meses de consumo de absoluta porcaria, pois não é assim tão fértil a produção cinéfila de qualidade. Contudo, nas últimas quatro semanas, surpreendentemente, a tendência inverteu-se: saíram-me quatro bons filmes na rifa. O primeiro “Destruir depois de ler”, com uma belíssima interpretação de Brad Pitt, a fazer lembrar um “Fargo” – filme que me agradou bem mais do que o afamado “Este país não é para velhos”. Depois, “Paris” do qual já aqui falei, seguido de “A Turma” também aqui referido pelo Henrique Burnay. Por fim, foi a vez de “Em Bruges”, de Martin McDonagh, com um Colin Farrell num papel que o próprio McDonagh caracterizou como sendo “de algum modo, mais sexy e perigoso do que tudo o que Colin fez antes".
Ray (Colin Farrell) e Ken (Brendan Gleeson) são dois assassinos enviados de férias para Bruges pelo seu chefe, Harry (Ralph Fiennes), na sequência de um trabalho que correu mal e em que Ray, por engano, mata um rapazinho. Tendo em vista escaparem à atenção das autoridades, estes dois personagens, habituados à adrenalina e à acção, deambulam por uma Bruges medieval, repleta de história, de cultura, de recantos e pormenores. A nostalgia do cenário mistura-se, então, com os protagonistas do filme. Os contrastes – prepositados – são a ironia e o encanto do filme: a paz da paisagem contrasta com a violência das personagens; a crueldade destas, com a sua sensibilidade; a sua malvadez com a sua ética. O tempo parece desacelerar e conceder-lhes minutos infinitos para a introspecção, fazendo que, de dentro destes “vilões”, vão surgindo características, à primeira vista, inimagináveis para o espectador: a sensibilidade de Ken, a dor de Ray, a honra de Harry...
E depois a soberba interpretação de todos e de Colin Farrell em particular, capaz de fazer qualquer coração feminino apaixonar-se por aquele assassino entediado com a pacatez da cidade Belga, indignado, quando o seu companheiro o tenta entusiasmar com a sua beleza, a fazer lembrar-me a minha própria pessoa quando alguém gaba as qualidades e vantagens do país de Angela Merkel – “vive-se melhor, ganha-se mais, é tão bonito…” – e eu, com a mesma expressão – e voz esganiçada – de horror de Farrell no filme, respondo: “O quê???? Viver na [porra] d`Alemanha? Nem morta, pá!”
Nota: o filme está integralmente no YouTube dividido em 13 partes. A primeira, pode ser vista aqui.
Terça-feira, 11 de Novembro de 2008
© Foto: Gavin Bond (para GQ)
Segunda-feira, 10 de Novembro de 2008
Tenho por hábito, depois de uma certa hora, aterrar em cima da cama e ficar a ver os programas que me impingem na Sic Mulher. Aquilo é como um folhear de “Holas” e “Caras”, uma massagem capilar no cabeleireiro, um banho de sol: descontrai, relaxa, deixa-nos o cérebro vazio das preocupações do dia.
Papo tudo, desde a Oprah à Tyra Ebanks, de uma tal de Janice Dickinson, histérica e malcriada que tem uma agência de modelos, até uma série com uma miúda que morreu e que tira almas em part-time.
No outro dia surpreendeu-me, contudo, um programa sobre sexo, uma espécie daquele que passou há tempos na TVI (“AB Sexo”), só que, em vez de uma bela e sensual Marta Crawford, com uma velhinha caquéctica.
Ao que parece a senhora chama-se Sue Johanson e é uma conhecida e conceituada enfermeira canadiana dedicada à educação sexual. O programa – Talk Sex with Sue Johanson – consiste em chamadas telefónicas por parte dos telespectadores, cujas dúvidas a dita senhora esclarece. Depois do seu sucesso no Canadá o programa transferiu-se para outros países, nomeadamente, para os Estados Unidos e é aclamado pelos americanos.
Aquilo chocou-me confesso. Chamem-me preconceituosa, conservadora, o que quiserem, sei lá, mas achei ridículo aquelas mãos sarapintadas de Melanose solar manusearem dildos e vaginas de silicone como se de agulhas de croché se tratassem. Pasmei ao ver aqueles lábios encarquilhados encenarem sucções eróticas e aconselharem as telespectadoras em linha – acompanhados pelo movimento de um maroto dedo indicador, chamativo – a dizerem aos seus parceiros para “virem cá” e a intitulá-los de “big guys”. Horrorizou-me vê-la pousar em cima da mesa um enorme saco e, qual Pai Natal, retirar de dentro dele carradas de brinquedos a que chamou maliciosamente de “hot stuff da Sue”. E principalmente impressionou-me a forma irresponsável como indicou como se tratavam certas doenças.
Não é que ache que o sexo esteja reservado a mais novos, não, nada disso, mas aquela personagem apenas descredibilizou ainda mais o programa. Tudo aquilo me soou a disparatado. A uma brincadeira ridícula.
Não é assim, seguramente, daquela forma leviana e superficial – a correr, como as chamadas a que tem de dar vazão – que se ensina sexualidade e se dá conselhos sobre uma coisa tão complexa - e delicada - que é a relação entre seres humanos. [também postado aqui]