Cenário: Mais uma noite a tomar conta dos meus sobrinhos, e estou eu e o Simão sentados na sala, a ver televisão. Nesta, passa uma telenovela que ele vê atento e onde uma mulher pergunta com voz desesperada e dramática a um homem como poderá aquilo ter acontecido?, como poderá fulaninha de tal ter engravidado?! Eu armo-me em esperta diante do Simão e respondo:
Acção: – É simples, ora! Aquilo aconteceu porque ela e o namorado fizeram sexo! Ele olha para mim e, devoto, argumenta, deixando-me a lamentar profundamente a oportunidade de ter ficado calada: – Não necessariamente – refuta indignado. – Olha, a Maria, por exemplo, a mãe do Jesus, ela teve um filho e não fez sexo!
Take me out tonight Oh, take me anywhere, I dont care I dont care, I dont care Driving in your car I never never want to go home Because I havent got one... Oh, I havent got one
Adoro uma romaria. Não sei se por ter nascido no dia de S. João e, na véspera, já eu quase cá fora, ter pressentido a turba popular feliz de martelinho em punho agredindo-se entusiasticamente, se por durante muito tempo ter vivido em frente a um largo, onde, todos os anos, no início do mês de Junho, a adrenalina do barulho das motas do Poço da Morte e o timbre melado da voz do Roberto Carlos davam som aos meus dias. Aos quatro anos, pelava-me por uma voltinha no carrossel mais inocente; aos seis, por uma mais atrevida no Comboio Fantasma; aos oito (já a viver noutro lugar, mas ainda assim assídua nesta festa), pelo perigo dos carrinhos de choque; aos dez, fascinava-me a aberração de uma Mulher Cobra. Esta é, aliás, umas das imagens que melhor guardo na memória e um dos mitos que mais intensamente me perseguem desde a infância. É que ainda a estou a ver em cima daquela mesa, propositadamente de espessura finíssima para nos dissuadir de pensar o seu corpo escondido nela, de cabeça estática, mas bem-falante, coroando um fantástico corpo luzidio, enrolado, de Python reticulatus. Um homem – que a minha imaginação recorda de bigode farfalhudo e sotaque acentuado do norte – fazia-lhe perguntas a que ela calmamente respondia, deixava o público escolhido a dedo (provavelmente, contratado pelo próprio espectáculo) fazê-las também, e eu ali, de olhos esbugalhados, separada daquela coisa apenas por uma baixa grade de ferro, incapaz de abrir a boca de tão aberta de espanto que estava, sabendo-me enganada, mas não percebendo como o faziam. Já na idade adulta procurei em vão insistentemente pelas feiras populares por onde passei tal atracção e ainda agora lamento na adolescência (onde a maturidade já me permitia perspicácia suficiente para perceber o fenómeno, mas a idade me conferia interesse por tudo menos por tal temática) ter deixado escapar – imaginem, que raiva! – uma mulher polvo. Até hoje me interrogo como faziam eles aquilo, e amaldiçoo a ASAE, ou lá que entidade é que proíbe estas coisas, por as ter feito desaparecer, e não me dar oportunidade de finalmente desvendar tamanho engodo.
Quando se fala de “amizades coloridas”, acreditem, não é ao mesmo a que nos referimos, para homens e mulheres. Ainda que, à primeira vista, para ambos a sua definição seja igual – um relacionamento sexual, sem exclusividade e compromisso emocional, prolongado no tempo, com vista à satisfação de ambas as partes – na prática, este contrato de regras, aparentemente, tão bem definidas será assinado apenas por uma delas: a masculina. Para eles, é claro que este se trata de um relacionamento puramente sexual; para elas, mesmo que com ele tenham acordado a priori – e até acreditado ser possível – a coisa não é bem assim. Se podemos conceber a ideia de que uma mulher, seja lá por que razões forem, tenha relações sexuais esporádicas com este ou aquele homem que com ela se cruze na vida, asseguro-vos, será muito rara aquela que invista tempo, atenção, afecto – e este, por incrível que pareça, está presente, para uma mulher, num envolvimento sexual quando este é prolongado no tempo – num relacionamento sem que fique, emocionalmente, ligada a ele. Para o sexo feminino, o que mais pesa é o investimento afectivo feito na relação e este é directamente proporcional ao tempo dispendido na mesma. Pelo contrário, para os homens, o que tem mais valor é o prazer dela retirado e o factor novidade. Por outras palavras, podemos dizer que eles se prendem a elas enquanto não as conquistam; e elas prendem-se a eles depois de terem sido conquistadas. Senão como explicar, num relacionamento sem compromisso, que se passem quando descobrem que não são as únicas? Ou que justifiquem a ausência do “amigo colorido”? Este comportamento seria, então, perfeitamente desnecessário e elas fazem-no sistematicamente. Fazem-no, também, com o invariável argumento de eles serem muitíssimo ocupados, pais extremosos em missão baby-sitting, ou até mesmo detentores de uma particular personalidade, atípica e muito reservada, dada ao “anti-social”. E nem elas imaginam, a contar pelas vezes que o ouvimos, a quantidade de homens com este particular carácter que por, aí, há! Mas quando se vão abaixo, quando apertadas na tristeza de tão desigual investimento de afectos, elas confessam. Confessam que o seu sonho era casar, ter um casalinho de filhos com eles, enfim, um ninhinho perfeito, e que mantêm viva a esperança – e vejam só, se eles as ouviam agora! – que eles, um dia, lhes digam que é isso que querem também. Senão, porque viajam eles com elas? Porque passeiam e jantam fora tantas vezes? Porque respondem a sms e a chamadas tardias? Porque CONTINUAM eles com elas? E é aqui, meus queridos leitores, que reside mais uma grande falha na comunicação entre homens e mulheres: é que elas interpretam todos os actos deles como sinais de ligação; e eles transmitem o sinal por pura cortesia [e, como acredito pouco no altruísmo masculino, para assegurarem – obviamente – a próxima queca].
Pior do que aqueles que se escondem por detrás do anonimato, ou de um nick imbecil, e que, se divertem a mandar umas bocas, escondidos nas suas covardes carapaças, incapazes, contudo, quando desafiados, de se exporem e articularem, duas frases que seja, com sentido, são aqueles que plagiam. É que os primeiros, caros leitores, são apenas uns tristes; já os segundos, uns criminosos. A Sofia Vieira foi novamente plagiada e como ela diz, e muito bem, já está na altura da protecção dos direitos de autor na Internet em geral, e na blogosfera em particular, ser levada a sério pela comunidade jurídica e pelas instâncias jurisdicionais e de estes vermes sociais começarem a ser condenados pelos seus actos. [Um tema para ler noControversa Maresia].
O que mais me aborrece, quando tenho de trabalhar em casa, é que despendo mais energias na tarefa de fugir ao mesmo, do que a que seria necessária para o realizar. Vejamos: Preparo meticulosamente o ambiente à minha volta, rodeio-me dos dossiers e dos livros necessários, sento-me, ligo o portátil e … leio todos os meus blogs favoritos! Aproveito e dou também uma olhadela àqueles que nem gosto por aí além. Depois, levanto-me para ir buscar bolachas; é que, entretanto, já passaram duas horas e o meu estômago começa a ressentir-se. Em vez de duas, como seis, para adiar o timming em que tenho de olhar para a tal papelada. Finalizadas as bolachas (sim, porque acabou por ir à vida o pacote inteiro) decido que tenho de responder àqueles mailsurgentíssimos que há mais de dois meses esperam na caixa do correio. Lá vai mais uma hora e meia nisto, intercalada com idas à casa de banho, telefonemas atendidos e feitos, e o stress do objectivo não cumprido a fazer-se acumular. Quatro horas depois já não consigo estar sentada da cadeira. Dói-me a cabeça, as costas e concentrar-me é impossível. É urgente libertar energias. Decido ir correr. Visto umas calças de fato de treino, calço umas sapatilhas e é ver-me arfar pela marginal fora, num joggingdesenfreado. Chego a casa exausta, suada e esfomeada e pela ordem inversa satisfaço estas três necessidades: lancho demoradamente, tomo um longo banho, e deito-me no sofá onde acabo por adormecer. Acordo, já lá fora é noite escura, dorida e mal-humorada, em pânico com a minha improdutividade. A posição em que adormeci foi a pior e o trabalho espera-me ainda intacto. Bolas! Preciso de jantar! Ligo a televisão enquanto como, e distraio-me com os telejornais de todos os canais; são onze da noite quando me sento novamente em frente do computador e abraço finalmente o trabalho porque sei que a meta final – a recompensa – está próxima: ir para a cama, daí a nada (mas, entretanto, aproveito, ainda, para escrever esta crónica).
À espreita está um grande amor mas guarda segredo Vazio tens o teu coração na ponta do medo Vê como os búzios caíram virados por norte Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte (...)