Segunda-feira, 31 de Março de 2008
Na foto: Adriana Lima/ © Foto: ?
Dusty Springfield - The Windmills of Your Mind
Sexta-feira, 28 de Março de 2008
Deliciosa esta Madame Souza com o seu eterno amor pelo neto; delicioso este cão Bruno eternamente fiel aos seus donos; deliciosas estas Triplettes de Belleville eternamente solidárias para com os outros.
Terça-feira, 25 de Março de 2008
A minha rua é a mais bonita da cidade. Atrever-me-ia a dizer do país, mas sei que é, apenas, uma afirmação subjectiva e emocional. Nela, modestas casas térreas misturam-se com antigas Villas numa dimensão humana que lhe confere harmonia.
Nesta altura do ano predominam os cheiros das rosas e das camélias, e o cantar do cuco e o chilrear dos pássaros são uma melodia constante. À noite, intensificam-se os odores, mas alteram-se os sons: o silêncio é cortado de vez em quando pelo ladrar, ao longe, de um cão, pelo movimento rápido de algum pequeno animal, pelo ciciar das árvores e dos arbustos.
Certa vez, a lua pairava alta no céu, alterei o caminho costumeiro que me leva do lugar onde estaciono o carro, a casa, seguindo pela travessa que ladeia o minúsculo quarteirão que os separa. Do lado direito, uma enorme casa – outrora palco de tertúlias literárias e serões ao piano – parece adormecida no tempo e na vida, num silêncio de cortar o coração a quem ainda, como eu, se recorda destes reconfortantes encontros. Espreito-lhe, saudosa, o frondoso jardim, miro-lhe, entristecida, as imponentes árvores seculares, adivinho-lhe, ao fundo os contornos do granito… e eis que surgido do nada, na noite escura e sombria, apenas iluminada pelo luar, qual conto de fadas, avisto um enorme coelho branco. Esfrego, incrédula, os olhos, recuo dois passos surpreendida, para logo os avançar em mais do dobro movida pela curiosidade e pelo encanto. Ele fita-me, alvo como um floco de neve, macio como um tufo de algodão, os olhos rubros como dois rubis. Estendo a mão e ele aproxima-se confiante, beija-me, ao de leve, os dedos, delicadamente, como um príncipe cortês, sedento de companhia, de uma boa conversa, quem sabe. Relembro, automaticamente, o antigo proprietário da casa, um “homem das leis”, alto e magro, de farta cabeleira branca, e quase acredito que me encontro numa história para crianças e que, por um feitiço qualquer, é perante ele que estou, agora transformado nesta espécie de roedor.
Nas noites seguintes não voltei a ver o misterioso coelho. Nem nos dias que se seguiram. E cheguei a duvidar do que os meus olhos presenciaram.
Os meses passaram e com eles as estações do ano e quase me esqueci deste surreal episódio. Mas, hoje, voltei a contrariar o costumeiro caminho que me leva a casa e a subir a travessa que ladeia a enorme casa desabitada. Não ia sozinha e relembrei a história a quem me acompanhava. Escarneceu, zombou, gargalhou, duvidou da minha sanidade mental à altura, mas estacou surpreendido, tão incrédulo como eu, quando o avistou: ao enorme coelho branco dos olhos encarnados.
Tive a certeza que não é um príncipe o coelho alvo que se atravessou no meu caminho (se o fosse, jamais teria aparecido também à outra pessoa). Contudo, estou certa de que tenho o privilégio de viver num conto de fadas e sinto-me uma verdadeira Alice na rua das maravilhas da Foz do Douro por morar onde, no meio da cidade poluída e barulhenta, cantam os cucos, florescem as camélias, e de vez em quando, aparecem até coelhos misteriosos.
Domingo, 23 de Março de 2008
Personagens:
• Simão (7 anos)
• O destrambelhado Labrador de 3 meses, Spike
• O coelho Skubidu
• Eu
Cenário:
Ontem foi dia de apresentar o coelho Skubidu, habitante antigo lá de casa, ao novo cachorro, já vosso conhecido.
No jardim, o destrambelhado Labrador de três meses corre desembestado de um lado para outro, trava tardiamente, esborrachando-se contra nós e contra as coisas, para logo recomeçar numa correria infernal, as orelhas a esvoaçar, feliz, os olhos esbugalhados, de satisfação.
O meu sobrinho Simão chama-o. Ao colo tem o pobre Skubidu, coelho matreiro e arisco, sempre pronto a ferrar os seus dentes compridos num dedo, ou a bater as patas num “coice” imponente para a sua estatura.
O Spike avista-o e, na sua excitação e curiosidade, precipita-se para o coelho descoordenadamente. Eu, cautelosa, aviso o meu sobrinho:
Acção:
– Cuidado, Simão, olha que ele ainda pensa que o coelho é o almoço...
O meu sobrinho aconchega melhor o roedor ao colo e determinado adverte o cachorro:
– NÃO, Spike, NÃO! O Skubidu não é para o almoço! E depois ironicamente – porque quem sai aos seus não degenere – atira, gozão: – É para o jantar… E só se te portares bem, ouviste?!
Sábado, 22 de Março de 2008
Na foto: Gisele Bündchen para Victoria`s Secret
Quinta-feira, 20 de Março de 2008
Vá, agradeçam-me!
O Gato de Cheshire da Alice no País das MaravilhasA pensar que lá se foi o meu ar teenager. Ora, bolas!
Quarta-feira, 19 de Março de 2008
O Gato de Cheshire da Alice no País das MaravilhasFinalmente, sem aparelho ortodontico, com a sensação de que tenho montes de dentes… enooormes!
"Depressa virá a Luz, qual estrela da manhã, e nascerá a aurora."
© Foto: deletedpenguin... que lindo, que querido, que fofo, que pequenino… que grande estafermo que, agora, me deu cabo de uma camisola de cashemira!
[Postado também aqui]
Terça-feira, 18 de Março de 2008
Recordo os teus cabelos ébanos por entre as minhas mãos, curtos, hirtos, ásperos, entre os meus dedos, movendo-se em sentido contrário ao das minhas festas, fugindo – assim – às minhas carícias. Recordo os teus olhos azeviche, pequenos, profundos, cravados, como duas pérolas de ónix, fixados nos teus pensamentos, centrados em ti. Recordo as tuas palavras complexas, elaboradas, redondas, herméticas como o verbo dos sábios, dos magos, dos clérigos ou... dos charlatães. Recordo a tua crueldade, a tua frieza, o teu sarcasmo, o teu egoísmo, a minha ingenuidade, a minha estupidez, o meu amor incondicional, e jamais é a palavra que guardo para ti. Para o vazio que me deixaste, para a dor que me fizeste sentir. Para os longos momentos aguardados à tua espera, para as mentiras inventadas para te encontrar. Para as mentiras aceites, Meu Amor, para – efemeramente – te ter.
Uma Thurman no filme Pulp FictionQuase mulher, Meu Amor.
Urge Overkill – Girl Youll be A Woman Soon.
Quinta-feira, 13 de Março de 2008
De mãos dadas, de olhos a brilhar, gulosos, como dois miúdos que param em frente de um carrossel, eu suplico-lhe numa voz mimalha: – Querido, pagas-me uma voltinha? Oh, please, please, pleaaase! – insisto, esboçando saltinhos infantis.Ele suspira e retorque resignado: – Meu Deus!, ao que nós chegamos... E lá vamos nós, os quarentões, não uma, mas duas vezes, nas fabulosas cadeiras de massagens shiatsu do centro comercial.
Foto retirada daqui