Quinta-feira, 30 de Junho de 2005
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cronicas do quenia - 5 -
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Jambo!
Algumas fotos ja estao em Portugal! Ja comecei a trabalhar para o projecto do curso de fotografia e levei a minha camara velhinha para Lamu...
Depois de insistentes pedidos, junto fotos da casa em Nairobi.
É importante referir que descobri as teclas com é, ç e è. Estavam mesmo bem escondidinhas, demorei quatro meses para as encontrar. Ainda nao consegui descobrir os acentos para os as, e os os...
Uma pequena informacao: o meu numero de telefone agora e + 254 733 xxxxxx.
Maia
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Convidados para o pequeno almoco...
O Quenia é, apesar de tudo, o pais mais estavel desta regiao. Os conflitos etnicos sao esporadicos e a situacao nao se compara com a dos paises vizinhos na zona dos grandes lagos! Pelo menos por enquanto... Em 2002 ha eleicoes e “as coisas estao a aquecer”. A maior parte das pessoas que por ca passam, nomeadamente os turistas que vem aos magotes, nem se apercebem que estao numa “panela de pressao”.
Para a MSF, este escritorio tem funcionado como o ”Regional Office for East Africa.
Nairobi dispoe de excelentes ligacoes aereas com a Europa, o resto de Africa e a Asia. O resultado esta a vista: praticamente todos os dias ha pessoas de passagem a caminho do Burundi, do Sul do Sudao, da Etiopia ou do Uganda. E essas pessoas “em transito” vem ca a casa – a Guest House de Nairobi!
Como a maior parte dos avioes chegam da Europa bem cedinho, por volta das sete e meia tenho convidados para o pequeno almoco.
Levanto-me, vou correr a meia hora do costume (1 minuto de corrida , 29 de caminhada...) e depois do duche... toca a campainha!
- Ola! Eu sou a Abelha Maia e tu? Fizeste boa viagem?
Passados alguns minutos de interrogatorio mutuo, ja sei quem tenho a minha frente. Com um pouco de sorte até da para conversar!
Ansiosos por comecar, assustados com as ultimas novidades, confusos; medicos, enfermeiras, logisticos, jornalistas, responsaveis de programa em visita para fazerem analise da situacao; eles vao passando a caminho das missoes.
De regresso, normalmente fazem escala em Nairobi e dormem ca em casa.
Cansados, tristes por terem acabado a missao, aliviados porque chegaram ao fim, perdidos no conforto ocidental desta grande cidade, entusiasmados com o que encontram no supermercado, “de boca aberta” quando eu digo: - japones, chines, italiano, libanes... que restaurante preferes? - a falar ininterruptamente da realidade que deixaram para tras, passam, a caminho do “debriefing” em Paris.
Ja se tornou uma rotina.
Enfim so!
Claro esta que nao é assim todos os dias!
Hoje, por exemplo estou sozinha em casa!
O Eric foi para a Liberia montar um campo de refugiados, volta daqui a duas semanas.
O Karim, medico antropologo que veio ca como consultor para um dos programas em Homa Bay foi embora ontem a noite.
O Jerome, responsavel logistico do programa nutricional em Ngozy, no Burundi, esteve ca em casa durante a semana de repouso e foi embora hoje.
Tomei o pequeno almoco com ele e com o Renau, logistico que acabou a missao em Kayanza, também no Burundi.
Acompanhei-os a porta e vi-os partirem no taxi...
Fechei a porta, olhei para o relogio e ...
- O.k., sao sete e meia e estou sozinha! Ooops, estou sozinha em casa. Que susto, nao estava a espera! Assim, de repente, nem sequer me preparei. O que é isto que estou a sentir? É panico? Talvez... Acalma-te, Maia! Calma!
Bem, as nove tinha aula de kiswahili, por isso voltei para a cama, para ler um pouco... adormeci.
Quando acordei o panico tinha passado e senti um enorme alivio. Estava sozinha. Uau! Posso ficar em casa, passar o Domingo entre a sala e o jardim, a apanhar sol, a escrever, a ler, coisas simples que so da para fazer quando nao ha pessoas por perto, com historias interessantes para contar!
Abelha Maia
"Fireworks explode over tallships sailing in the Solent off the coast of Portsmouth, southern England, during events to mark the 200th anniversary of the Battle of Trafalgar June 28, 2005. Britain's Queen Elizabeth on Tuesday conducted the world's biggest naval review, off the southern English coast, to commemorate British naval hero Horatio Nelson's victory at the Battle of Trafalgar 200 years ago."
REUTERS/Stephen Hird
Fonte: Reuters
Quarta-feira, 29 de Junho de 2005
Diz-me a verdade, Meu Amor, diz-me a verdade...
Mesmo que doa, diz-me.
Como se chama o teu cavalo
Aquele que nunca vi, mas que sei de cor?
Diz-me a verdade, diz...
Hoje vi o teu pai que me lembrou de ti...
Nem sei porquê, não o conheço,
Mas em cada palavra sua,
Procurei-te a ti, Meu Amor,
Nesta busca constante de te encontrar,
De te perceber...
Diz-me a verdade, diz
Mesmo que faças de conta,
Mesmo que ela não exista...
Prometeste-me um dia a Lua, (lembras-te?)
Redonda como uma Bola...
Do Tamanho do Mundo,
Brilhante como o futuro...
(E) Eu vi-a, lá no alto, quando ma sussurraste ao ouvido,
Eu vi.
Mas encontro apenas uma caixa,
Onde guardo pedaços de ti!
Diz-me a verdade, diz, Meu Amor
Tu que és mais velho, mais crescido... mais criança
Onde se lê o futuro?
Onde se arruma o passado?
Onde se sofre o presente?
“Fosse eu Mágica e roubaria para sempre o coração do Velho Sábio
e habitaria com ele eternamente o Reino das Fadas...”
Diz-me a verdade, Meu Amor, diz...
Dificil de descrever...
Em Homa Bay costuma chover por volta das 5 horas.
O ceu fica carregado. Depois da chuva assume um dramatismo que ainda nao consegui captar nas minhas fotografias.
O por do sol e impressionante! As nuvens têm cores muito fortes, entre o vermelho, o rosa e o cinzento! Muito forte! Muito escuro dum lado, rosa vivo do outro, ou com alguns relampagos a mistura...
Quando paro, respiro fundo e olho para o ceu sinto uma alegria extrema! E tao dificil de descrever o que vejo, partilhar as emocoes que sinto ao fim do dia!
Kwa heri...
De regresso, a caminho do aeroporto, sao 2 horas de estrada. A primeira hora em terra batida, depois vem meia hora de alcatrao todo esburacado (prefiro a terra batida!...) e meia hora de boa estrada.
Muitas casas, casinhas, vacas, cabras, burros, sempre muito movimento!
Durante todo o caminho ha casas a vista. Sempre presentes. Na planicie. Ao longe, nas colinas. As paredes em adobe e os telhados de palha ou em zinco.
E animais. Atravessam a estrada em manadas ou presos por uma corda e acompanhados por uma crianca. A solta, a pastar na berma da estrada ou em grupos, nas planicies.
Dum lado as montanhas, do outro a planicie e o Lago.
E chegamos a Kisumu, capital da provincia e terceira maior cidade. O aeroporto e pequeno e e utilizado por um aviao com cerca de 50 lugares, o Flamingo.
O Flamingo faz tres viagens de ida e volta por dia. Desde que estou no Quenia fiz quatro vezes a viagem com ele e ja nos damos muito bem. Quando ele comeca aos solavancos eu ja sei que nao e grave, que acontece sempre que passamos por cima do Lago Naivasha. Tambem ja sei que, se nao chover, o Flamingo precisa de 40 minutos para fazer a viagem, senao demora uma hora... Acho que estao criadas as condicoes para um bom relacionamento!...
Abelha Maia
Terça-feira, 28 de Junho de 2005
Tanto me queixei do calor, que ela aí está. Furiosa e traiçoeira, num dia de Verão.
Reuters/ Tim Wimborne
Porra, detesto as Antas. Detesto a VCI, e a Circunvalação e este calor na cidade. E o cabrão do gajo da EDP. E a EDP. Como é que uma pessoa sozinha, numa casa minúscula, pode ter uma conta de oitenta e tal euros por mês?! Qual hábitos do consumidor qual quê, o senhor não está a ver que só depois da mudança para o contador bi-horário é que esta porcaria aumentou?! Não. Já lhe disse que os hábitos são os mesmos! Não, o cilindro não está avariado, nem o fogão que é a gás… Outra vez? Já lhe disse que não! Porra! E o cabrão a ameaçar, que os técnicos vão lá, mas são mais sessenta euros… Mais sessenta euros???!!! E EU QUERO LÁ SABER, QUERO A PORCARIA DO CONTADOR ANTIGO, para quê que o fui mudar, vigaros de um raio, ladrões de uma figa!
E este calor! E o arrumador. E a VCI outra vez.____ Pára, arranca___ pára, arranca__ pára, arranca outra vez____ e outra__ e outra____ e outra e outra___ Porra!
Quinta-feira, 23 de Junho de 2005
Alterei a data do post de hoje − imagens QUE falam − e coloquei-o mais abaixo porque achei que era aí que fazia sentido... enfim, esquisitices!
Quarta-feira, 22 de Junho de 2005
... e que dizem muita coisa!
"A displaced boy from south Sudan holds his schoolbooks at Oliji primary school during a visit of U.N. High Commissioner for Refugees Antonio Guterres in northern Uganda, June 21, 2005. Guterres told recently displaced refugees from south Sudan on Tuesday that the international community must do more to translate a peace agreement for the region into reality, UNHCR said."
21 Jun 2005
REUTERS/Radu Sigheti
Fonte: Reuters
"Lembro-me de ficar conhecido por «não gostar de pés». Isto num círculo familiar, claro. Eu teria uns oito anitos e devo ter feito essa observação a um adulto que, por qualquer razão, achou piada e resolveu espalhá-la pela família. Ainda hoje a minha mãe se lembra e graceja quando qualquer assunto se aproxima da problemática da estética dos pés - «não eras tu que não gostavas de pés?». Já tentei explicar-lhe que a minha visão crítica nesse campo sofreu uma considerável evolução: continuo a abominar patorras feias, mas fico doido com um pé feminino perfeito." [continua no CagaFogo]
Segunda-feira, 20 de Junho de 2005
Em conversa com uma amiga, que se queixava de um tratamento, dei por mim numa conversa solidária de gajas contra essa putas que se chamam hormonas.
Dizia a outra que a bem dos seus ovários, onde um cabrão de um quisto se decidira alojar sem pedir licença − de férias, esperemos − lhe fora sentenciada a toma dessas bestas, que nos deixam descontroladas e histéricas, a bem dizer, completamente vulneráveis e à sua mercê. E eu que nem tinha pensado no assunto, dei por mim a sublinhar os sintomas da outra, do cansaço à lágrima no olho, do irritanço ao aluamento, que não há quem aguente!
Deu-me para depois de velha ter doença de miúda nova, bem que dispensava este piropo do meu organismo, mas o tipo é cavalheiro, e toma lá mais uma auto-imune, faz favor, com direito a vénia e porta aberta para uma série delas que espero nunca ter. E controla, não controla, análise para aqui, cintigrafia para acoli, lá me receitaram a pastilhinha milagrosa, pequenina mas póderoooooosa até dizer chega.
E eis que as hormonas me deixam tótó de todo, desconcentrada e molengona, a dormitar em todos os sofás, cadeiras, puffes e apeadeiros. E o pior nem é isso, pois eu que sempre me pude gabar da minha esbelta silhueta, do meu metro e sessenta e quatro, por quarenta e nove quilitos de peso, não é que incho e desincho, numa média de dois quilos por semana, enquanto o diabo esfrega um olho, que é como quem diz, entre uma toma e uma pausa de uma puta dessas pastilhas. Uma coisinha assim, minúscula, imaginem, vai lá a gente perceber! É que neste embucha e estica não há calças que aguentem, camisas que assentem direito, nem vestidos que se portem bem! E com o Verão aí à porta, bolas… já nem quero pensar nos bikinis!…
Faz-se silêncio.
A multidão aguarda expectante. Um leque corta o ar impaciente.
Os dois fitam-se.
Une-os a fúria e a irracionalidade.
Resta-lhe(s) pouco tempo...
Que crueldade, meu Deus!...
Fotos: Reuters/ Victor Fraile
Domingo, 19 de Junho de 2005
Uma hora e meia de espera. Antes tinha sido outra hora e meia para comer porco na brasa, perfaz um total de três horas para ver vinte minutos de espectáculo. A culpa foi da parada que se atrasou, demorando mais tempo do que o previsto, para percorrer as ruas da cidade.
Vieram do céu, mais do que muitos, encapuçados, como espermatozóides futuristas. Uniram-se em círculos, ésses, rectas e ús. Ficaram brancos, rosa, amarelos, violeta. E jorraram água. Uma chuva miudinha que refrescou o mar de gente que os observava de pescoços inclinados e olhos fitos no ar. O som era alto, ensurdecedor, vibrante, enquanto eles se contorciam, se esticavam, se baloiçavam e se voltavam a alinhar. De repente terminou e ficamos, ali, à espera de um bis que jamais chegou.
Dissolvemo-nos na multidão e, confesso, angustiou-me a claustrofobia de saber-me cercada de tanta gente. Ao longe a música chamava e seguimos, magicamente, o seu encantamento. Como um rio humano, que corria, que não era nunca o mesmo, que reflectia tonalidades diferentes. Deixei-me levar. Desaguei em frente ao palco e dei por mim a dançar, a lançar, violentamente, os braços no espaço até as mãos se encontrarem num estalo compassado. Ritmado, feliz. E cantei: zahh zahh zahhhhhh zahh zahh! Acompanharam-me os outros, cada um, todos, o rio inteiro! Disseram que eram palavras de sorte. Não sei. Não interessa. Mas sei, sim, que a alegria, essa é certo, esteve comigo esta noite. Vitor Azeredo[Foto colocada a 11.07.05]
Sábado, 18 de Junho de 2005
Vou pintar a minha vida a pastel... que o vento leva de um sopro!
(baseado num texto do knuque em O Talento da Mediocridade)